Ainda no Ginasial (primeiro grau, hoje) eu usava uniforme que era uma camisa branca, com o escudo do colégio, para fora das calças, e calça caqui meio beje escuro.
Morava na Praia de Icaraí, na Rua Otávio Carneiro quase esquina da praia e o Colégio ficava no bairro do Fonseca, hoje próximo da subida para a ponte Rio/Niterói.
Nosso meio de transporte eram as lotações que faziam um trajeto circular passando na Praia de Icaraí, umas indo pelo Centro de Niterói, outras indo pela Rua Mariz e Barros e Santa Rosa até o Fonseca.
Na lotação iam duas filas de assentos duplos com quatro bancos de cada lado e um assento no fundo para cinco pessoas e o resto ia empilhado em pé.
A porta era aberta por um sistema de maçaneta que era puxada e/ou empurrada para abrir ou fechar a porta.
O tempo do trajeto variava, mas na saída da escola com muitos pegando a mesma condução acredito que uns quarenta, cinquenta minutos de um ponto ao outro, utilizando a rota de Santa Rosa.
Nós, os mais bagunceiros, procurávamos sentar no último banco para ir zoando com o resto dos colegas que usavam o mesmo transporte.
Digo isso tudo e agora acrescento o trajeto original daquele terrível dia, para que tenham a possibilidade de sentir pelo que passei e que passo a narrar.
Pesquisando no Google e refazendo o trajeto não bate com o que era a época em virtude do crescimento da cidade, mudança nos veículos de transporte e mãos das ruas percorridas.
Então tracei no mapa, em vermelho a rota do lotação que peguei naquele dia e em preto o caminho percorrido a pé pela praia até minha casa.
Ao entrar na lotação e naquele brigalhada para ver quem conseguia o último banco já senti um borbulhar estranho na minha barriga.
Já sentado e com a lotação totalmente cheia, aquele borbulhar começou a aumentar. Aí a dúvida:
– volto para o Colégio, o que seriam uns poucos quarteirões a pé, ou
– continuo a viagem apostando todas as minha fichas em que não ia piorar.
Fiz a segunda opção, certo que com a bagunça na lotação logo minha barriga se acalmaria . Ledo engano.
Na subida da Rua 22 de Novembro a primeira cólica. A bagunça ficou em segundo plano já que tínhamos percorrido menos de um terço da viagem e a situação tendia a piorar.
Parei de brincar, mas ninguém notou, tal era a bagunça mas meu medo era que alguém descobrisse, pois logo um engraçadinho ia gritar:
– ‘Tem um CAGÂO aqui!”- e eu visualizando todos os dedos e olhares apontando para mim.
No final da descida da Rua 22 de Novembro, aquela primeira cólica e a trancada. Você sabe como é aquela ação instintiva de evitar uma descida geral dos bolinhos comidos na cantina da escola, principalmente o de ovo cozido.
Maldizendo a escolha do último banco senti as primeiras gotas de suor escorrendo pelo rosto, e o pavor tomando conta do cérebro em vista de que a lotação não esvaziava.
Chegada em Santa Rosa, 3/5 do trajeto percorrido e a coisa já estava quase incontrolável. Na ânsia de ter mais tempo, movimentos contínuos com a esfincter anal(vulgo anus) no sentido de retornar com o olho d’água(figura de retórica para diarreia violenta) que insistia em deixar meu corpo.
E eu pensando “Sai não, você me pertence!” Acho que nesse momento não só o suor rolava pelo meu rosto como lágrimas de quem já previa a desgraça consumada.
Entrando na Rua Mariz e Barros no sentido Praia de Icaraí, e eu pensando: -“Falta tão puco!”
Já assumindo que não ia dar enfiei as calças para dentro das meias de forma a não permitir que vazasse no chão.
Quem já teve esse problema se não fez isso foi deixando um rastro pela calçada.
Nesse momento preciso esclarecer que era um dia de semana e no horário do almoço o que fazia da praia um território quase vazio.
Um quarteirão para entrar na Praia de Icaraí e não teve esforço que segurasse, dei um pulo, corri para o motorista pedi que parasse e desci. Descemos eu e tudo que estava no meu intestino numa cachoeira similar as de Foz do Iguaçu.
Cabeça baixa olhando para o chão, o que evidenciava mais ainda a desgraça pelo cheiro que subia, andando o mais rápido que podia meio com as pernas abertas atravessei a rua em direção á praia.
Minha primeira intenção era me jogar no mar pois se não morresse afogado parte do acontecido poderia ser despejado lá, junto com o que prenunciava ser uma segunda leva.
Andei pela areia os três quarteirões faltantes até com uma certa tranquilidade, apenas preocupado com a segunda leva chegando.
Em frente a Rua Otávio Carneiro a dúvida cruel, continuo como se nada estivesse acontecendo ou dou uma corrida até em casa. Uma segunda cólica seguida de outra trancada decidiram por mim pela corrida, acontecesse o que acontecesse.
Entrei em casa direto para o banheiro dos fundos que eram usados pelas empregadas e nunca um local ficou tão parecido com o céu, eu ali sentado nos estertores de uma diarreia mas feliz por ter chegado em casa. Todo sujo, mas feliz de estar no aconchego do lar e principalmente longe dos olhares dos colegas.
Ainda tive que ouvir muita risada e frases como :- “Eu não vou lavar isso não”, ou “É melhor tocar fogo de uma vez” relativas as minhas calças, cueca e meias.
Mas como diz o velho ditado :-‘Lavou? Está novo.”