A volante ataca – estórias decorrentes

Como narrado ao término da história da reunião que iria reduzir minha área na Mineração e Concentração, contado em : A volante ataca .

Alguns dias após retornar aos meus afazeres em Jaguarari e contando com a presença constante da auditoria na minha gerência, recebo um telefonema do Superintendente de Controle(contabilidade, orçamento, custos e controle patrimonial) me fazendo a surpreendente proposta:

-“Araken, aqui é o Superintendente de Controle da Administração Central (em Salvador) gostaria que você viesse até aqui para termos uma conversa, quero lhe fazer um convite.”

-“Bom, eu não posso me ausentar agora pois acabei de voltar de férias, fiquei aí em Salvador mais de uma semana e preciso me organizar, aqui em Jaguarari”- respondi.

-“Então pensa nisso”- continuou ele-“que tal vir trabalhar comigo aqui em Salvador? Você seria meu assistente!”

-“Vou pensar e te ligo na semana que vem, quem sabe vou até aí em Salvador para conversarmos pessoalmente”- respondi ganhando tempo.

Fiquei matutando – “Aí tem! Se eu sair daqui e for para Salvador, mudo de Diretoria e é só um empurrão para ser demitido.”

Com isso na cabeça fui para casa, conversei com minha esposa e fiz umas contas:

– Meu salário é X;

– Tenho uma excelente casa, uniforme, transporte e não pago nada por isso;

Frente da Casa de Jaguararí

Frente da Casa de Jaguararí

Somando o que iria pagar me mudando para Salvador de aluguel, transporte, alimentação e mais o meu salário deu um número que, se não era maior, certamente ficaria bem próximo do de quem me convidava.

No dia seguinte fui falar com o meu Superintendente:

-“Júlio, ontem recebi uma ligação estranha do Superintendente de Controle da Administração Central me convidando para ser seu Assessor, o que você acha?”

-“Uma fria”-respondeu e continuou-“você vai ficar cercado por aquela turma que tentou te derrubar, não vão te dar nada para fazer e ainda tem a possibilidade de logo te mandarem embora”

-“Foi o que pensei, obrigado!”- respondi saindo da sala dele.

Saí da sala dele certo da decisão a tomar porém não queria ser apressado e deixei para ligar na semana seguinte.

Centro Empresarial Iguatemi - Sede da Caraíba Metais em Salvador

Centro Empresarial Iguatemi – Sede da Caraíba Metais em Salvador

-“Alô, aqui quem fala é o Araken de Jaguarari o Superintendente pode me atender?-” falei com a Secretária, que imediatamente passou para ele.

-“Olha, eu andei fazendo umas contas” – falei-“e cheguei a conclusão que vou perder dinheiro indo para Salvador. Aqui tenho vários banefícios e que se a empresa for assumir aí eu vou ficar com um salário altíssimo, talvez igual ou superior ao seu. Veja aqui eu tenho casa, transporte inclusive na hora do almoço, almoço em casa, tenho uma horta na casa e ouras coisas que me facilitam a vida e que em Salvador sairia muito caro.”

-“Entendo”- respondeu secamente.

-Eu fico extremamente honrado em você ter pensado em mim, quando tem à sua volta pessoas iguais ou melhores que eu, muito obrigado pela lembrança”- continuei a conversa.

-“Tudo bem, um abraço”- continuou secamente.

Bem, daí em diante começou o meu calvário, que continuarei a contar na próxima quinta.

Estúdio I – Traquinagens na escola – vídeo inédito

Turma de 1963 da Escola Técnica de Comércio Brasil

Parte da turma de 1963 da Escola Técnica de Comércio Brasil

Além dos citados no programa, ao fundo de pé, o Professor Fioravante Zambroti, da matéria Contabilidade.

O vídeo abaixo não deu tempo de ser enviado para o programa Estúdio I + de 24/jan:

No vídeo permanece uma dúvida :

-O que foi feito do jacaré empalhado?

Após acalmar nossa colega, evidentemente vieram para nossa sala tanto o inspetor como a Diretora do Colégio, querendo que se apresentasse o dono do animal empalhado. Obviamente ninguém se´apresentou e nem a ameaça de suspender a turma toda por 3 dias conseguiu um nome.

Em vista do silêncio da turma o animal foi apreendido e passou a ser mais uma peça do museu do Colégio.

Esquerda - entrada da nossa sala, Direita - Porta da Capelinha

Esquerda – entrada da nossa sala, Direita – Porta da Capelinha

Na foto acima ficam bem definidas as portas de entrada, tanto para nossa sala que menciono no vídeo, como para a capelinha da escola.

Foi nossa segunda e mais numerosa(em número de suspensos) traquinagem.

Certo dia, nosso colega Marquinhos, que gostava de cantar rock, levou seu violão para a aula e na hora do recreio resolvemos fazer uma “disco” com Marquinhos, seu primo que estudava também na nossa turma, tocando e cantando músicas dos anos  60.

Mas não bastava cantar e tocar tinha que ter um lugar especial.

E qual foi o escolhido?

Verificando que a porta da capelinha não estava trancada resolvemos ir para lá tocar, cantar e dançar. Hoje penso que fomos uma espécie de Pussy Riot(Rússia), masculino, ao cantar e dançar numa igreja.

O certo é que estávamos no “Let’s twist again” de Chubby Cheker, cantando mais alto em virtude do entusiamos da música, alguns dançando em cima das cadeiras da capela quando fomos surpreendidos pelo inspetor da escola.

Juntou o grupo, uns cinco ou seis, e levou imediatamente para a sala da Diretoria, onde recebemos a sentença de 3 dias de suspensão por profanar um espaço sagrado e fazer bagunça dançando em cima das cadeiras da capela.

Abaixo mais uma foto da turma da Escola Técnica de Comércio Brasil, ano 1963

Turma de 1963 da Escola Técnica de Comércio Brasil

Parte da turma de 1963 da Escola Técnica de Comércio Brasil

A volante ataca

Volante -( significado no nordeste) – Militar = Diz-se do campo de tropas ligeiras, sem bagagens nem artilharia.

Minha demissão da empresa de mineração de cobre em Jaguarari, Bahia, foi feita em algumas etapas que juntaram elementos policialescos, politicagem e falta de consideração e encerrando isso tudo a estória da árvore vingativa .

Tudo começou no início do ano de 1981.

Estava eu e minha esposa gozando férias em Caxambu e São Lourenço, quando do retorno para o Rio de Janeiro  e ao chegar à casa de meus pais, numa quinta feira, recebi o recado de que meu chefe, o Superintendente de Administração, pedia que eu ligasse imediatamente para ele.

“Oi Júlio, aqui é o Araken, você deixou um recado para que eu te ligasse urgente, o que está acontecendo?”- disse eu ao telefone.

Ao que o Júlio respondeu:-“Interrompe suas férias, troca sua passagem e volta imediatamente para cá, o Diretor de Financeiro(orçamento, custo, contabilidade, patrimônio e finanças)  marcou uma reunião para segunda feira onde será discutido o futuro organograma da sua área e até onde eu sei eles querem levar tudo para Salvador e deixar você e uma secretária, aqui na mina. Você tem que montar toda sua estrutura até domingo. Na segunda pela manhã vamos de táxi aéreo para Salvador encontrar nosso Diretor(Industrial) e ele quer ser convencido de que sua estrutura é a melhor para a empresa.”

Havia, naquela época uma empresa de consultoria que estava fazendo um projeto de reestruturação na Administração Central, na Mina e na Metalurgia, e eu tinha bastante contato com o consultor que estava na Mina.

Era um português e eu quando criança havia ido a Portugal e Espanha, o que nos dava assunto para conversar e fazer uma certa amizade.

-“Júlio, pede ao consultor que me espere pois vou precisar muito da experiência dele para construir uma estrutura sólida, que convença o nosso Diretor, se ele se convencer ninguém mais vai conseguir questionar.”- pedi

Assim foi feito remarquei nossa passagem para sexta e pedi para minha secretária em Jaguarari comprar as passagens de Salvador/Juazeiro de forma a que ninguém em Salvador soubesse de minha volta, e que fosse trabalhar no fim de semana.

Chegamos em nossa casa em Jaguarari na madrugada de sábado. Dormi um pouco e logo havia um carro da Mina na minha porta, já com o consultor dentro. Partimos para o escritório.

O primeiro e mais difícil da nossa tarefa foi identificar cada cargo e descrevê-los, depois verificar quantos seriam necessários para cada cargo e porque  e finalmente se havia ou não a necessidade de uma supervisão.

A medida que íamos avançando Rosário, minha secretária ia transformando nossas anotações nos padrões que a consultoria usava. isso levou todo o sábado e a maior parte do domingo.

Quando terminamos a estrutura estava montada com todos os cargos descritos, quantificados e justificados. Estávamos prontos para a batalha. Do escritório liguei para meu chefe Júlio, o Superintendente Administrativo:

-“Júlio, aqui é o Araken, terminamos o trabalho e queria saber se você quer dar uma olhada antes de irmos, amanhã, para Salvador. Posso passar pela sua casa(quase em frente da minha) com o consultor e te explicar”- eu disse

Estrutura Proposta

Estrutura Proposta

-“Precisa não, amanhã você vai ter de explicar para nosso Diretor e eu vou estar junto”- ele respondeu encerrando a conversa.

Tudo resolvido e ficamos combinando a estratégia da reunião com o Diretor Industrial, que seria na parte da tarde, após conversarmos com o meu Diretor.

Segunda feira:

Depois de pousarmos no aeroporto de Salvador fomos direto para o Gabinete do Diretor Industrial e lá ficamos até que ele mandou entrar a mim e ao meu Superintendente.

“Puta que pariu, Araken!”- Nosso Diretor Industrial era assim algumas palavras um palavrão, mas nunca soou ofensivo-“acabaram com suas férias! O que é que você preparou para a reunião de hoje?”

Tirei o material da pasta, e fui mostrando e ele questionando:-” Mas precisa dessa merda mesmo? Por que?”- e eu explicando.  Vez por outra o meu Superintendente me dava uma força.

“Até agora eu entendi essa porra toda, mas quem vai pagar os fornecedores!”-perguntou, finalmente o Nosso Diretor.

“Essa é a surpresa que nós preparamos”-disse olhando para meu Superintendente que balançou afirmativamente a cabeça-“vamos passar para a Administração Central, é isso que eles querem, o Contas a Pagar e nós vamos entregar numa bandeja de ouro. Não faz a menor diferença para a Mina onde se prepara o pagamento, lá ou aqui, por isso nem consta do organograma”-encerrei minha explicação.

-“Acho que eles vão tomar um susto do caralho! Eu estou convencido e agora vou para casa almoçar e voltamos a nos encontrar na sala de reuniões”- disse o Diretor encerrando nossa reunião.

A Reunião:

É preciso, antes falar do respeito que todos tinham pelo nosso Diretor Industrial. Todos os demais Diretores que tinham como origem o Grupo Vale ou o BNDES haviam sido substituídos por indicações políticas baianas.

Entramos os três na sala de reuniões : o Diretor industrial, o meu Superintendente e eu. Lá dentro uma tropa de choque nos esperava : O Diretor Financeiro, o Superintendente de Controle(Contabilidade, orçamento, custos, controle patrimonial, contas a pagar), o Superintendente Financeiro, e seus gerentes.

Quem abriu a reunião foi o Superintendente de Controle:

-“Araken, talvez você não tenha conhecimento, mas estamos trazendo uma nova proposta para sua área”- falou ele como se eu houvesse acabado de chegar de férias.

Meu Diretor fez um gesto, interrompendo e:

-“Eu gostaria que antes o Araken apresentasse a proposta dele para a área de Controle da Mina!” e antes que alguém dissesse alguma coisa ele se virou para mim:

-“Araken, mostra o que você preparou.”

-“Como não sabia que ia ter tanta gente na reunião eu só fiz quatro cópias além das que já estão em poder do meu Diretor e do meu Superintendente”- e enquanto falava entreguei as cópias ao Superintendente de Controle que redistribuiu: uma para o Diretor Financeiro, uma para o Superintendente de Finanças, uma ficou com ele e a outra num bolo de gerentes se amontoando para ver o material. Teria sido cômico se ali não estivesse sendo definida a vida de 54 funcionários, meus, da Mina e Concentração.

-“No conjunto que vocês estão recebendo estão o organograma, o quantitativo por nível hierárquico, o quantitativo por função e a descrição das funções.” comecei.

-“Como podem verificar não consta do meu organograma a Supervisão de Contas a Pagar!” e ia continuar quando o Gerente de Controle, totalmente aturdido, exclamou:

-“Não? Como assim?”- disseram, ele e o Superintendente de Controle, quase fazendo um dueto. Toda a estratégia deles para a reunião estava indo pelo ralo. Nenhum deles se importava com o resto, o pote de ouro era o Contas a Pagar e decidida a transferência para a Administração Central em Salvador, o restante estava em aberto.

-“Dada as condições sob as quais a empresa está passando o melhor será centralizar o Contas a Pagar na Administração Central e sendo assim não consta na minha proposta de organograma.”- encerrei

-“E eu concordo com o que o Araken me argumentou, emendou meu Diretor Industrial!”-jogando a última pá de terra enterrando  tudo que estava armado para acabar com a minha área na Mineração e Concentração.

Daí para frente foi só meu monólogo explicando como havia sido dimensionada cada área, com algumas interrupções do meu Diretor que perguntava:

-“A menos que vocês tenham algum estudo que discorde do que o Araken está falando”- quase uma maldade, pois todo estudo deles estava voltado para o Contas a Pagar e como isso já tinha saído de pauta todas as pastas estavam fechadas.

O resultado:

Ao final da reunião eu que havia ido com uma proposta de um efetivo de 54 funcionários fiquei com 55 ou seja um a mais do que eu havia preparado.

O Diretor Industrial nos levou para a sala dele e falou com o meu Superintendente :

-“O Araken vai ficar mais uns dias aqui e vai ajudar na elaboração de um material semelhante para a Metalurgia”- determinou ele, encerrando nossa participação.

A estória:

Dizem que após a reunião os Superintendentes de Controle, o de Finanças e o Diretor Financeiro se reuniram na sala desse último:

-“VENCEMOS!”- teria exclamado o Diretor Financeiro

-“Vencemos o que?”- teria respondido o Superintendente de Controle com aquiescência do Superintendente financeiro e jogando o organograma que eles haviam preparado e o aprovado na mesa do Diretor -“Olha a diferença! Era para ser só o Araken e uma secretária! Agora olha a estrutura que nós mesmos concordamos, 55 pessoas!”-vociferou-“Vencemos o que?”- encerrou acabando com a alegria de seu Diretor.

1ªpágina do memorando do Superintendente de Controle para o Diretor Financeiro - após a reunião

1ªpágina do memorando do Superintendente de Controle para o Diretor Financeiro – após a reunião

Página final do memorando resultado da reunião de dimensionamento da minha área

Página final do memorando resultado da reunião de dimensionamento da minha área

O que sobrou para mim:

Como determinou o Diretor Industrial passei mais três dias na Metalurgia em Camaçari, ajudando meu equivalente Gerente de Controle e Finanças a elaborar a estrutura dele e retornei para Jaguarari/BA.

Dessa época em diante até a minha demissão eu passei a ter a visita de um auditor, da sede, toda a semana fazendo seu trabalho na minha área.

Contam até uma estória de que em um aniversário de um funcionário meu, o auditor de plantão naquela semana teria tomado todas e dito para esse meu funcionário:

-“Eu tenho ordens de achar qualquer coisa contra seu chefe, você não quer me ajudar?”- Até onde eu sei o funcionário recusou.

Ainda há mais a contar mas que deixarei para a próxima postagem.

Pequenas histórias e estórias – Porto Trombetas

Chega de Tucunaré!

Tucunaré

Tucunaré

Pouco antes da assinatura do contrato de construção, nós recebemos a pessoa que seria o Gerente da Obra. Canadense de nascimento ele tinha muita experiência visto que havia chefiado outros projetos para a Alcan(um dos sócios na mineração) em vários países na Ásia.

Mr. Harry Hamilton já era um senhor mas, com muito vigor. Tinha várias manias sendo uma delas o horário. No Trombetas o horário era de sete da manhã até meio dia e de uma da tarde até as quatro da tarde.

Não adiantava, fora desse horário ele não aceitava nada relativo ao serviço. Podia ser um cheque urgente para assinatura, que ele dizia:

-“Amanhã eu assino.” – e podia estar na porta da sala dele, no dia seguinte, porque rigorosamente as sete da manhã ele estava abrindo a porta.

Certa vez o filho dele foi visitá-lo e levou de presente uma vara de pescar, toda incrementada. Se fosse nos dias de hoje certamente teria sonar e computador para detectar os peixes, tal o avanço daquela que ele recebeu.

Foi nossa perdição.

Decidido a experimentar o presente do filho ele passou, todo santo dia ao final do expediente, a sair para pescar : TUCUNARÉ!

E a tal da vara incrementada era boa. No finzinho da tarde lá chegava ele com o barco cheio de tucunaré, que mandava limpar separava um ou dois para ele e mandava repartir entre os moradores da vila.

No primeiro dia foi ótimo já que o peixe tem muita carne e pouca espinha e no forno fica uma delícia.

No segundo dia, lá voltou ele com mais? Tucunarés! Separa, limpa, distribui e a sobra ia para o Pioneiro(casa de hóspedes) para o freezer. Isso seria ótimo se fosse opcional receber o peixe, mas não era.

Ele havia mandado reduzir o abate de boi em função dos peixes que ele estava pescando e não é estória de pescador. A tal vara de pescar e ele traziam muitos peixes, todos os dias.

E foi terça, e foi quarta, e foi quinta e foi sexta e foi sábado. Ninguém conseguia mais olhar para o peixe. Quando a picape parava na porta, já se sabia: lá vem tucunaré.

Do Pioneiro(casa de hóspedes) começou a sobrar e ser mandado para a cozinha dos peões(trabalhadores braçais). No final tinha peão vindo na minha sala pedir para falar com ele para parar de pescar que eles não aguentavam mais comer? Tucunaré!

Já tínhamos feito o peixe de todas as maneiras possíveis e lá vinha Mr. Hamilton no barco lotado de? Tucunaré!

E no domingo, mais peixe e na segunda… na segunda, depois de uma semana inteira só comendo peixe, Mr. Hamilton parou de pescar.

Os mais gozadores diziam que o peixe fugia quando via que a isca era importada, outros aventavam a hipótese de que a esposa dele Da. Edna, também ter esgotado todas as receitas de peixe o certo foi que, para alívio geral, a carne de boi voltou ao cardápio diário.

Engordando o gado !

Transportando gado

Transportando gado

Como não tínhamos como manter uma grande quantidade de carne armazenada em freezer, comprávamos boi em pé e um vaqueiro tomava conta do rebanho, como já contei em A onça de Porto Trombetas.

O dono do barco comprava dos criadores, trazia para Porto trombetas, ele mesmo tinha uma balança no barco onde pendurava o boi e marcava o peso. Ao final somava-se o peso e pagava-se o valor devido.

Certa feita o Gerente Administrativo, o Fred chamou o vaqueiro, porque os bois estavam acabando muito rápido e não tinha crescido o efetivo de trabalhadores tanto assim.

-“Afinal, porra, o que é que está acontecendo com a boiada, que não está dando mais para alimentar o pessoal?”- perguntou o Fred.

-“Sei não Seu Fred, o boi chega gordinho e vai emagrecendo, em uma semana já perdeu quase a metade da carne”- respondeu o vaqueiro, sem olhar para cima.

-“Ô Fred, será que não é o pasto?”- falou o Tagá, seu secretário.

-“É não”- respondeu o vaqueiro-” o pasto está verdinho, com o tempo o boi vai ganhando carne de novo.”

-“Tem merda acontecendo, só não consigo imaginar qual é!”-exclamou o Fred, emendando-“Quando é que você pediu para trazer mais boi, Tagá?”

-“Deve estar chegando depois de amanhã!” respondeu Tagá

– “Avisa ao Comandante(piloto do nosso barco) que nós vamos atrás desse sacana, para ver o que está acontecendo, vamos sair hoje à noite”- ordenou Fred

Naquela meia noite Fred, Tagá, Comandante e Corta Água(apelido do maquinista do barco) saíram de Porto Trombetas atrás do vendedor dos bois. Passaram por Oriximiná e no amanhecer o Comandante avisou:

-“Seu Fred acho que aquele barco é ele!”

-“Desliga o motor e vamos chegar de surpresa”- pediu Fred e assim, devagarzinho, foram se aproximando do barco.

Corta Água ligou o motor novamente e encostaram no barco que , não havia mais dúvida, era do marreteiro.

Encostaram os barcos e Fred e Tagá pularam para dentro do barco com o gado, para surpresa do dono e seu ajudante.

Não foi difícil descobrir a manobra, o gado estava quase se matando para beber a água do cocho, significava que estavam há muito tempo sem beber ou ele só tinha dado sal e agora que faltava pouco para chegar no Porto Trombetas estava dando água para o gado se empanturrar e aumentar significativamente de peso.

-“Então é assim que você chega com o boi gordinho lá na mineração, seu filho da puta!”- gritou Fred, que bravo não era de ser enfrentado por muita gente-” vai enchendo o boi de água para pesar mais quando chega!”-

“Corta Água, amarra os barcos que nos vamos subir juntos para a mineração”- comandou Fred sem que ninguém o contestasse e assim foram um do lado do outro até Porto Trombetas.

Chegando lá, Fred avisou para o marreteiro:-“sai do barco que você vai ficar aqui pelo menos dois dias, até esse boi mijar tudo que você fez ele tomar”

-“Mas Seu Fred…” tentou argumentar o marreteiro, mas quando olhou para o Fred-“Sim senhor eu fico aqui no barco.”

“Negativo”-respondeu Fred-” você vai para o alojamento e o vaqueiro e seu ajudante vão cuidar do gado no barco. Você só volta aqui depois de amanhã, e tem mais ainda vai pagar os dois dias que vai ficar no alojamento.”

Não deu outra, quando passou o tempo determinado e começaram a pesar o gado, o total deu uns quinze por cento a menos do que o usual. Ao final da pesagem Tagá trouxe o valor e o marreteiro aos escritórios.

Enquanto eu preparava o cheque com o desconto da hospedagem alguma conversa houve na sala do Fred pois daquele dia em diante só se começava a pesar o gado dois dias depois da chegada.

Tributo à Minha Tia

Arrumando alguns papéis antigos encontrei esse texto. Não tinha data nem nome e portanto não sei a quem dedicar. Eu, cá para mim, tenho uma forte ideia de quem seja.

A tristeza da perda física

A tristeza da perda física

“MINHA TIA
De repente levei alguém à sua última morada. Será que era ela realmente? Não, estava ali o que restava de uma marionete, cujo Manipulador um Ser Maior, que resolvera tirá-la de cena.
Mas seria só isso? Um boneco que não pediu para ser feito, nem participar do show e, muito menos, sair de cena.
O que haveria mais nesse show ? Existimos nós, que continuamos aqui? Há o dia, o céu, os pássaros, as lembranças, O TODO?
Então tudo se resumiria a isso? E achamos pouco?
Olhe em volta, nós estamos acabando com a harmonia na terra, brigando entre nós mesmos e contra a Natureza, esquecendo que o Amor, simplesmente o Amor, nos levará de volta a tudo e ao TODO.
Ali está o marionete, mas os shows dos quais ele participou colocando o Amor ao próximo acima de tudo, ficarão inesquecíveis na retina da alma de tantos quantos tiveram a felicidade de presenciar.
Olho, repentinamente, seria uma lágrima?
Não, era um sorriso. Sorriso de quem, finalmente, encontrou a Harmonia, de quem pode, agora, aproveitar, sem limites, do Amor.
É minha tia, a vida aqui não foi fácil e esse seu papel o cumpriu com brilhantismo e galhardia arrancando aplausos de nós que tivemos o privilégio de conviver contigo.
Sorria, abra seu imenso coração e de dentro dele espalhe amor, paz e harmonia entre nós.
Outros marionetes assumem a cena. Nenhum igual a você.
Do sobrinho e amigo
Araken”

Nosso anjo da guarda

Nosso anjo da guarda

Minha vida em Itabira – prós e contras

Antigo GEIT com sua forma de H - à direita campo do Valeriodoce

Foto atual do antigo GEIT, com sua forma de H – à esquerda campo do Valeriodoce

Minha transferência para Itabira foi algo inusitado. Um colega de Belo Horizonte, do Departamento de Obras ( vide a ditadura) muito entusiasmado com meu trabalho, conseguiu uma vaga para mim no GEIT (Grupo Executivo de Itabira) Responsável por diversas obras, principalmente a Usina de Concentração de Minério de Ferro.

Para mim era a promessa de uma transferência com todos os benefícios que a Vale oferecia e, mais, a promoção para o primeiro nível I, só permitida aos que tinham curso superior, o que não era o meu caso. Não podia recusar.

Só esqueceram de combinar com o chefe do GEIT, Dr. Renato, que simplesmente não tinha o que fazer comigo no Grupo já que sua equipe estava totalmente formada.

Sendo assim, com uma mesa e uma cadeira, no arquivo técnico(local onde se guardava e faziam cópias das plantas das obras e os cálculos da topografia), junto aos colegas Décio e Dimas, passei os primeiros seis meses da transferência sem ver um só papel na minha frente. Não fossem os colegas citados eu teria dado fim a minha carreira.

Mas como “quem tem padrinho não morre pagão” e “não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe” o Chefe da área de Controle(contabilidade, orçamento e custos) do Departamento de Obras, eBelo Horizonte, criou uma espécie de sub contadoria, por onde passariam, para serem contabilizadas, as medições das obras controladas pelo Grupo.

Embora tenha feito e sido aprovado em todos os teste para ser promovido para um cargo do quadro de nível superior, (numeração romana) I, continuei supervisor do quadro de nível geral que já exercia no Rio de Janeiro. A solução dada pelo Dr. Roberto, que havia substituído o Dr. Moretzshon foi que eu apontasse 60 horas extras mensais, como compensação financeira pela não promoção.

Era tanta a certeza de que eu iria para o nível superior que na transição entre chegar e levar a família, morei numa república de engenheiros, coisa inconcebível há um Técnico em Contabilidade, em Itabira.

Outra certeza que eu tinha da minha promoção era que eu tinha direito de usar o banheiro dos engenheiros, sim porque no GEIT haviam três banheiros : masculino, feminino e engenheiro.

Resolvida a polêmica e encontrado um acordo comum para as partes, eu ter uma sala, teria quatro contabilistas e uma secretária, foi providenciada uma casa para mim e minha família na vila dos Supervisores, um nível intermediário entre os nada e os de nível superior(leia-se aí, majoritariamente, engenheiros) continuei com a chave do banheiro dos engenheiros, coisa que os outros supervisores também tinham, uma sala com seis mesas, a minha as quatro dos contabilistas e a da futura secretária.

A casa cedida moravam os Supervisores do GEIT, eram casas de madeira mas muito confortáveis com três quartos, um quarto externo para acumular bagunça, sala de estar, sala de jantar e uma boa cozinha, do lado de fora além do amplo terreno uma lavanderia coberta.

A época só haviam 7 ou oito casas de madeira, só com os Supervisores do DO.

A época só haviam 7 ou oito casas de madeira, só com os Supervisores do DO.

Uma kombi ficava à nossa disposição levando e trazendo para o escritório, de manhã, na hora do almoço e no final do expediente. Durante o tempo vago atendia as famílias levando para compras e as crianças para o colégio.

O gerente administrativo, Darcy, me entregou um pacote de currículos para que eu escolhesse meus quatro subordinados, e nessa escolha é que tirei a sorte grande. Foram escolhidos o João Carlos, os irmãos Raul e Calos Alberto e o quarto escolhido que começou meu amigo e hoje é, e sempre será, meu irmão de coração.

Eu e minha filha no laguinho da tartaruguinha - Casa em Itabira

TUDO DE BOM !                                                                                                                                                      Eu e minha filha no lago da tartaruguinha – Casa em Itabira

Os amigos me sacaneavam dizendo que eu era tão pão duro que construí uma mini piscina.

Outros prós da minha ida para Itabira serão contados em posts futuros, como:

-o de ser professor da FIDE – Fundação Itabirana Difusora do Ensino;

– do campeonato de futebol de salão de 1º de maio;

– meu chefe estranho, alguns contras e muito mais.

Eu supersticioso? Claro que não!

Vídeo exibido no programa Estúdio I de 12 de julho de 2013 :

Eu tenho algumas manias, mas daí a me chamarem de supersticioso…

Quando era jovem e jogava futebol de salão, hoje futsal, só jogava de preto, ou numa GRANDE exceção o uniforme azul marinho, quando sobrava o cinza, já entrava meio derrotado. Sabendo disso eu mesmo lavava meus uniformes de jogo.

Além do tradicional “pisar na quadra com o pé direito” eu tinha que, na baliza, dar dois biquinhos na trave direita com o pé esquerdo e na trave esquerda com o pé direito, além de no centro do gol dar um tapinha no travessão.

O fundamental era a primeira defesa. Se eu conseguisse agarrar a bola com firmeza ou espalmar, em uma jogada mais difícil, isso me dava total confiança o jogo todo.

Tinha também algumas manias quando ia viajar:

– no avião: sentar sempre nas últimas fileiras, no corredor;

– no ônibus: saltar sempre no ponto anterior ao local que ia para sempre estar andando para frente;

– e a mais estranha se refere as “cuecas da sorte”.

Eram duas cuecas de algodão, bem tradicionais, uma azul marinho e outra verde escuro. Eu tinha que estar usando uma delas quando ia viajar, tanto fazia o meio de transporte. Viagem aérea então, até tirar da cesta de roupa suja eu fiz.

Com o tempo elas precisaram ser cerzidas ( Cerzir v.t. Costurar uma fazenda puída, disfarçando-lhe o defeito. Compor, formar. Unir, juntar.) e com o tempo passando e eu viajando muito chegou um tempo que não tinha mais o que fazer, era vestir e rasgava em algum remendo. Não me restava outra alternativa, senão:

– colocar uma na minha maleta de mão, junto com meu material de trabalho, dentro de um saco escuro, e a outra dentro do bolso da calça. Agora imagina no meio de uma reunião eu metia a mão no bolso para pegar um lenço e vinha a cueca velha!

Por fim eu fui intimado a jogá-las fora, o que fiz, porém antes cortei alguns pedaços do tecido que carrego até hoje em uma bolsinha de couro que levo no bolso.

Dentro dessa bolsinha de couro estão fitinhas benta do Senhor do Bonfim, que se romperam, figa e algumas coisinhas mais

Quanto a gato preto, o amor por meu filho foi mais forte que a superstição. Como ele queria ter um gato e tinha que ser preto, aceitei, inicialmente com uma certa preocupação. Agora já estamos com o segundo, também preto, adotado bem pequenininho quando foi abandonado num terreno baldio.

Passar por baixo de escada? Nem escada rolante!

Esse post está sendo publicado hoje, dia 13 !

Mudança nos dias de publicação

ATENÇÃO

d27f72e555c89b8488cc756807ce2809A partir da próxima semana passarei a publicar novos posts nas segundasfeiras e quintafeiras às 09:30 h.

Espero que assim esteja dando um passo para me j7gZopAZorganizar melhor, de forma a ter tempo para me dedicar,mais, às pesquisas necessárias para os dados e mídias que costumo publicar.

Obrigado pela atenção constante.

Araken

Jantar de luxo – carne de primeira

Eu ainda estava na Vale mas cedido a Bauxita Mineração, que depois se transformou na mineração de Bauxita de Porto Trombetas.

Uma de minhas obrigações mensais era ir a Belém, conferir o movimento financeiro e contábil e fechar o mês do escritório. Enviava a documentação por malote e seguia para Porto Trombetas onde o serviço era mais puxado, pois tinha que contabilizar todos o mês em rascunhos, trazer para o Rio de Janeiro, contabilizar e mandar para Vitória.

Circuito aéreo nos fechamentos da mineração de bauxita

Circuito aéreo nos fechamentos da mineração de bauxita – a escala em Brasília era para troca de aeronave

Até o décimo dia do mês seguinte era indicado um representante que iria participar do fechamento em Vitória. Não consigo imaginar a razão de ser tão disputada essa vaga.

Afinal passar as manhãs, praticamente sem fazer nada, exceto os atrasadinhos, podendo ir à praia, comer um peixe ou camarão e tomar cerveja, passar à tarde no escritório, acompanhando os processamentos das rotinas de materiais e pessoal, até chegar a rotina de custos que durava cerca de umas 5/6 horas que tínhamos que estar lá caso algo desse errado.

Porém rapidamente foi criado um sistema de alarme que ou batia na janela avisando aos que estavam no Piranha’s Bar, ou iam de carro até Carapeba para avisar que o processamento terminara ou alguém precisava voltar para resolver problema.

Na mineração o sistema era diferente, enquanto a Vale pagava diárias, na Mineração o sistema era de prestação de contas.

Era interessante como os funcionários que iam cuidavam da saúde tal a quantidade de sucos naturais tomados nas refeições. Interessante, também era como num apartamento para duas pessoas, logo se arrumava uma forma de ficarem 4 ou mais. Porém na prestação de contas vinha como apartamento exclusivo.

Nem como quarto vinha! Um desses hotéis de preferência, me lembro, o Hotel Prata, lata de sardinha que nem ar condicionado tinha.

Hotel Prata - Centro - Vitória/ES

Hotel Prata – Centro – Vitória/ES

Se somassem todos os apartamentos individuais que os que prestavam conta usavam, ia necessitar uns dois hotéis e de qualidade bem superior. Mas fazer o que, tinha que ter dinheiro para pagar algumas extravagâncias, fora os chocolates e doces de jaca ao final do trabalho, na viagem de volta.

Nesse contexto me encontro conferindo a prestação de contas de um colega que tinha ido participar do fechamento e estou vendo lá :

– táxi ida e volta hotel/CPD/hotel e, realmente na noite, era essencial voltar de carro para o hotel. O que acontecia era que vinham cinco em um táxi, e na prestação era um táxi para cada um;

-Diária em apartamento individual no Hotel Prata;

– a alimentação era a mais interessante, podia ser prato feito ou churrasco o preço era sempre do churrasco, tanto no almoço quanto no jantar;

Lá estava eu na parte de alimentação, quando em meio as notas, uma em especial me chamou a atenção o local : Cidade de São Sebastião, no Município de Serra/ES.

Na nota : Um filé completo, com vários sucos de laranja natural e sobremesa.

Na minha Cabeça deve ter brilhado o neon : ATLÂNTICA”

A nota fiscal com todos os aspectos perfeitamente corretos, inscrições e o nome comercial ” Bar e Restaurante Dinorá Dias da Cruz Ltda.” que era nada mais nada menos que a dona da Boate Atlântica.

Chamei o colega, e baixinho trocamos algumas palavras:

-“Seu relatório de viagem está correto e vou levar para a aprovação, mas Dinorá Dias da Cruz? Que tipo de churrasco você comeu lá? E tomou um porre de suco de laranja? Isso sem falar na sobremesa, que aqui no Rio você não come ou passa para mim” – falei

-“Vai excluir da prestação de contas?” ele perguntou

-“Claro que não, está tudo correto, só muda de restaurante para não dar na vista”- falei morrendo de rir da cara que ele fez e me encaminhando para a sala do Gerente para pegar a assinatura de aprovação.

Farol de caçar macaco – final infeliz

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Eu, Marquinho Soarte e “Porquinho” nos olhávamos sem acreditar que estávamos atolados num “lago” feito por uma chuva, que começava a parar, sem saber quem ia decidir descer e empurrar.

Marquinho, que gostava de andar sempre arrumadinho, decidiu como ele estava no volante eu e “Porquinho” desceríamos e empurraríamos o fusquinha até a boate.

Mas descer significaria que a água ia inundar o fusquinha, e ele era da Henrieta para quem tinha que voltar antes das sete da manhã apenas com os estragos de uma chuva comum.

“Porquinho” decidiu -“Vamos empurrar!” – falou e empurrou a porta deixando a água inundar o carro. Antes de descer arregaçamos a barra das calças para não sujar sem pensar que o estrago nos sapatos e nas meias era certo.

Fomos para traz e começamos a fazer força, mas com a quantidade de água, dentro e fora, além do Marquinho dentro do carro, sequer conseguíamos que ele se mexesse.

Convocado a empurrar, também, Marquinho desceu do carro e começamos a conseguir  fazer o carro se mexer.

Se uma coisa está ruim a tendência é melhorar, certo? Errado !

No vai e vem do fusca, dentro da água, “Porquinho” perde os óculos.

-“Para tudo que meus óculos caíram na água! Todos procurando meus óculos!”- implorou ele.

Agora visualiza a situação: – Noite, estrada de terra cercada de mato, uma lagoa de água com mais de 30 centímetros de profundidade e ele deixa cair os óculos?

-“Nããããããõoooo!”- pensei.

“Está aqui em volta de mim”- diz “Porquinho”-“Vamos procurar com as mãos!”

“Eu não vou meter minha mão nessa água!”- definiu Marquinho com minha total aprovação-“Vamos empurrar o carro e amanhã voltamos para procurar os óculos.”

“Eu não saio daqui sem meus óculos!”- retrucou Porquinho já sentado no banco do fusca tirando os sapatos e as meias-“Vou procurar, pisando para ver se encontro.”

Retornando ao local onde estava quando empurrávamos o carro, começou a fazer aquelas pisadas em seu redor como quem pisa em ovos.

Enfim Ele olhou para nós e perdoou todos os pecados que tínhamos pensado em cometer: “Porquinho” acha seus óculos!

Enfim, entramos na cidade luz, três homens com as barras das calças arregaçadas, um deles descalço, empurrando um fusca com seu interior lotado de água e lama.

A primeira coisa que eu pensei foi:-“Entro, pego uma mulher, pago o quarto, tomo um banho, lavo minhas meias e meus sapatos e estou praticamente novo.”

“Ninguém sai daqui antes de esvaziar e enxugar o interior do carro de Henrieta!”- bradou “Porquinho” e repetiu- “O carro da Henrieta!”

Lá se foi o banho, uma roupa mais seca e meias e sapatos sem lama. Usando copos emprestados da boate, começamos a tirar a água de dentro do carro e depois com as meias enxugando o interior, o que levou o tempo que tínhamos para nos divertir.

Conseguimos um “mecânico” para fazer o carro pegar e voltamos para nossos hotéis para um bom banho, troca de roupas e voltar para o C.P.D. . Ficou à cargo de “Porquinho” levar o carro para um posto  e pedir uma lavagem rápida, para  entregar em ordem de forma que o Joaquim pudesse levar para sua esposa.

Graças a Ele tudo correu bem, exceto por um pequeno detalhe revelado por Joaquim quando voltou de casa com o carro : um pé de meia esquecido dentro do porta-luvas após secarmos o interior.

A meia era do “Porquinho” que só notou quando chegou no hotel. Quase que todo nosso esforço foi para o brejo, por sorte Henrieta não mexeu no porta-luvas.

Fim dessa aventura

Quem quiser conhecer mais da história de Carapeba, São Sebastião e boate Atlântica leia esse link : São Sebastião ou Carapeba

Foi publicada na revista Isto É, edição nº 2, de junho de 1976, pelo jornalista Octávio Ribeiro, o “Pena Branca”.