Farol de caçar macaco

Janela de uma das salas - Naquela época existiam pelo menos mais duas. Na esquina oposta ficava o "Piranhas Bar"

Janela de uma das salas – Naquela época existiam pelo menos mais duas.
Na esquina oposta ficava o “Piranhas Bar”

Deviam ser alguns minutos após as onze da noite e nós, lá nas salas, uns jogando conversa fora, outros dormindo em cima de listagens de dados, alguns no Piranha’s Bar que ficava na esquina oposta a sala em que eu estava.

– “Começou a rotina de custos” -falou o técnico em informática-“Vocês podem ir descansar, mas todos de volta entre 04:30h e 05:00h além de ficar disponível se der alguma zebra.”

Bater no vidro, naquela noite, para avisar o pessoal que estava no Piranha’s Bar era inútil tal a chuva que caia. Alguém se ofereceu e começamos a descer da sobre loja pelas escadas e formando os grupos que iam ficar no Piranha’s, ou ir para seus hotéis, ou como era de costume sair pela noite de Vitória/ES.

Dizer noite de Vitória era forçar o que ia acontecer já que naquele horário a cidade estava igual ao tempo tudo fechado.

Nas sequencias dos fechamentos foram se formando amizades fortes o que permitia que alguns técnicos que moravam em Vitória deixassem seus carros conosco, para um raio de mobilidade maior que simplesmente ir para o hotel tentar dormir três ou quatro horas.

Naquela noite, “Porquinho” ( já mencionado em Erro de percepção ), estava com o fusquinha do Joaquim que, na verdade, pertencia à esposa dele o que levava a ter um cuidado excepcional com o carro pois ela era muito ciumenta com ambos.

Com aquela chuva toda a maioria decidiu pelo hotel, porém, “Porquinho” insistia em ir para um bordel chamado “Atlântica” que ficava no na cidade de Carapeba, depois São Sebastião, hoje Novo Horizonte, no  município de Serra/ES

À “Porquinho” se juntou Marquinho Soarte, conhecedor das estradas e eu, embora temeroso da chuva e do motorista, resolvi seguir junto.

Sabíamos que o carro tinha que estar até as sete da manhã pois Henrieta, ia ao mercado fazer compras e queria chegar cedo para pegar os hortifrutis bem fresquinhos.

Já haviam saído uns dois carros na mesma direção, o seja Bar e Restaurante Dinorá Dias da Cruz Ltda, nome de fantasia Atlântica, e concordamos em tentar, com o carro que tínhamos.

Pouco mais da metade do trajeto,de uns 15 km, dois terços eram no asfalto e um terço em estrada de terra, sem nenhuma iluminação ou indicação.

Já no início da viagem os dois limpadores do para-brisa  começaram uma discussão passando, rapidamente para as agressões. Um descia e o outro vinha por cima para a agressão que era revidada pela levantada do primeiro e assim se sucedeu a viagem inteira.

Marquinho dirigia com o nariz colado no para-brisa tentando enxergar alguma coisa mas, enquanto no asfalto, as marcações da estrada sempre eram uma referência.

Quando saímos do asfalto, a coisa feia se tornou um terror, enquanto o farol direito insistia em iluminar o para-choque obrigando a colocar no alto, o farol esquerdo que no baixo funcionava razoavelmente, no alto ele iluminava as copas das árvores como se fôssemos caçadores de macacos. e nessa situação tanto Marquinho quanto “Porquinho”, que usava óculos de armação grosa e preta, com a cara no vidro tentando enxergar alguma coisa.

Não havia solução era alternando baixo e alto na tentativa de não entrar no mato com o carro da Henrieta.

-“Cuidado com o carro da Henrieta!”- clamava “Porquinho” já imaginando uma tragédia conjugal da qual Joaquim nada tinha a haver.

Se a coisa já estava ruim, desandou de vez quando chegamos na primeira entrada para Carapeba ou São Sebastião, à época, o maior centro de prostituição do Espírito Santo.

Haviam desde casas de chão de terra batida até a luxuosa Atlântica com seu neon iluminando a entrada. Diziam que as casas eram divididas em quatro níveis: de A à D, sendo que as más línguas diziam que o nível D era de doença.

A Atlântica era um complexo de bar e apartamentos( chegou a três andares de apartamentos) que abrigava umas cem mulheres, além das residentes no entorno que lá iam praticar sua assistência sexual. Havia também um amplo salão onde eventualmente ia um artista em decadência se apresentar, ou música saída de uma vitrola direto para auto falantes espalhados pelas colunas do salão.

Voltando à viagem, estávamos na dúvida se aquela era a entrada ou deveríamos seguir para tentar outra mais a frente. Na dúvida Marquinho decidiu: “É aqui!”- decisão colocada em dúvida logo depois ao depararmos com um “lago” formado pela chuva na estrada.

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Marquinho em dúvida, eu em silêncio, e “Porquinho” -“Acelera e vai, que dá!, Acelera e vai com fé, que dá!”- Essas frases deram passe livre para Marquinho que engatou primeira, acelerou e…não deu! Paramos no meio do lago com a água mais ou menos um terço entre o estribo e a maçaneta. O motor morreu e nada o fazia ressuscitar.

Os três se olhando, esperando que algum tivesse uma ideia luminosa para sair dali.

Amanhã, o término da aventura…

P.S.: à título de curiosidade, naquele prédio bege que se vê ao fundo da rua

Janela de uma das salas - Naquela época existiam pelo menos mais duas. Na esquina oposta ficava o "Piranhas Bar"

Janela de uma das salas – Naquela época existiam pelo menos mais duas.
Na esquina oposta ficava o “Piranhas Bar”

lateral do C.P.D. havia uma galeria com várias lojinhas, em que uma, em especial, vendia o melhor doce de jaca, cristalizado, do MUNDO! Ele vinha em uma caixinha feita de cartolina e amarrado por barbante, totalmente artesanal. Uma delícia que tínhamos que correr para comprar, no último dia em Vitória, sob pena de voltar sem pelo menos uma caixa .

Sobre a retrospectiva de 2013

Atravessando o Rio Trombetas

Atravessando o Rio Trombetas

Nos dias 30 e 31 passados publicamos, em ordem cronológica, a maioria dos posts escritos em “Sobre o que vivi – Pedaços de minha vida”.

Em cada conjunto de posts basta clicar no título do episódio que será remetido até ele para leitura. Foram:

em 30 /12 => Retrospectiva – Acontecimentos em ordem cronológica – parte I

em 31/12 => Retrospectiva – Porto Trombetas

Ainda houveram algumas publicações de opinião, como :

=>Não gosto do Natal !

=>Eduardo, meu atendente virtual

=>Hoje não vai dar !

=>Hoje não vai dar! Deu !

=>URGENTE : Precisa-se de um amigo

e a explicação do porque os posts não seguem uma ordem cronológica, em :

=>Algumas explicações, ou por que comecei de trás para frente?

e a melhor publicação de 2013 :

=>Maria Beltrão fala : Bola, chama o Araken

Outros posts ficaram de fora em razão de serem apenas o início de aventuras, histórias e/ou estórias de mais “Pedaços da minha vida”

FELIZ 2014 !

FELIZ 2014 !