FESTA DE LARGO
Voltávamos de um almoço no Clube Espanhol, o representante da empreiteira que executava as obras da mina subterrânea em Jaguarari,eu, meu chefe o Júlio e Roberto me supervisor de contabilidade.
Vínhamos pela Av. Oceânica seguindo em direção ao Centro Empresarial Iguatemi, ao lado do shopping de mesmo nome.
Eram por volta das três da tarde e, repentinamente um enorme engarrafamento. Enquanto nosso carro, com ar condicionado graças a Deus, andava quase aos trancos entre os carros e na calçada passavam muitas pessoas.
Explico: Salvador tem, a tradição de festas de largo, que animam as comemorações de uma determinada igreja.
Se eu não me engano era no Rio Vermelho, subitamente três mocinhas batem no vidro e fazem sinal como se fosse para saltar do carro e acompanhá-las. Ninguém falou nada e continuamos naquele anda e para até passarmos pela festa.
Eram três da tarde e a praça estava totalmente lotada, fizemos algum comentário sobre o horário e o tanto de gente que ali havia, e seguimos para os escritórios.
Terminada a reunião e num momento em que ficamos sós, Roberto falou :
-“Se eu estou sozinho tinha descido e acompanhado aquelas meninas.”
– “E porque não falou” – retrucou nosso chefe o Júlio-“eu pensei a mesma coisa.”
-“Todos nós pensamos a mesma coisa, então”- falei-” mas como você é o nosso chefe e não disse nada, ninguém teve coragem de sugerir saltar ali e deixar a reunião de lado”
Naquela hora decidimos que iríamos, à noite, para lá.
Impressionantemente a praça estava mais vazia que à três da tarde, quando passamos por lá mas, mesmo assim, bastante animada.
Procuramos uma mesa, sentamos, pedimos duas cervejas e três copos e quando o garçom trouxe o que havíamos pedido, nos deu um conselho:
“Segurem as garrafas e os copos!”
Estranho aviso que rapidamente foi entendido. Mais ao lado de nossa mesa saiu um empurra empurra, que sobrou para nós e antes das cadeiras virarem levantamos com os copos e as garrafas na mão.
Daí para frente foi só aproveitar a festa, sempre segurando as garrafas e os copos, pois de quando em quando saía uma confusão, mas que só derrubava uma o outra cadeira, sem maiores consequências.
O arrependimento de não ter descido, quando chamados, durou por muito tempo em nossos comentários, já em Jaguarari.
Vai à luta
Em outra ocasião que estivemos, os três, em Salvador decidimos que iríamos procurar uma boate, para nos divertimos, e assim foi.
Certos de que qualquer taxista nos levaria ao de melhor havia em Salvador, pegamos um carro e pedimos que nos levasse para uma boate.
O táxi tomou o rumo da cidade baixa, o que já me deixou um pouco preocupado
com a qualidade solicitada e chegando num prédio ao redor da Praça Castro Alves o taxista apontou:
-“É ali”- apontando para uma porta que dava para uma escada-“é só subir a escada”
Quem está na chuva é para se molhar.
O local visivelmente mais para cais do porto do que boca do luxo(em São Paulo), mesmo assim escolhemos uma mesa, que quase
não tinha espaço entre as outras, pedimos nossas bebidas e ficamos apreciando o local, com as assistentes sexuais passando em volta e sempre pedindo alguma coisa.
No meio da madrugada, na mesa ao lado e na cadeira atrás da de Roberto sentou um armário. Sabe um cara grande, ele era maior, e ao sentar esbarrou na cadeira do Roberto.
Sempre meio esquentadinho ele já queria empurrar a cadeira dele contra a do cara, no que foi rápida e imediatamente impedido por mim e pelo Júlio. Agora imagina se sai uma confusão num lugar que só tinha a escada para sair e vários para baterem em nós. Ia ser manchete nos jornais do dia seguinte.
Segue a madrugada e Roberto arruma um das “moçoilas” para conversar. A conversa se arrastava pela madrugada e se concentrava no preço.
Nós, eu e o Júlio, bebendo e o Roberto no ouvido da moça, conversando e a moça no ouvido dele respondendo.
Os garçons já começavam a tirar as toalhas da mesa, quando fizemos um sinal para o Roberto se decidir, nem a música alta tocava mais, só o zumbido no nosso ouvido.
Quando ouvimos o Roberto falar:
-“Isso eu não pago, se quiser é “tanto” se não, vai a luta, procura outro!”
Depois de horas de conversa com a moça, boate vazia e ele manda ela procurar outro! Pagamos a conta, sem questionar o valor e saímos . Pegamos um táxi para nos levar para o hotel que eu sempre escolhia: o Hotel Convento do Carmo.
Da perdição para a redenção.
Fim de noite perigoso
O Hotel Convento do Carmo, naquela época, não ficava numa zona muito calma de se sair ou chegar na madrugada e ao chegarmos numa descida, no táxi, o motorista parou quando viu que no final da ladeira, no meio da rua havia uma kombi com uma pessoa do lado de fora conversando com o motorista.
Lá do alto ele piscou várias vezes com o farol alto mas ninguém se mexia. Repentinamente ele engata marcha a ré, faz uma manobra de retorno e fala :
-“Vamos sair que é assalto”
Saímos de lá o mais rápido possível demos uma longa volta e chegamos ao hotel pelo outro acesso.
Noite animadíssima.