Ressaca na Floresta

Em 1991 a Vale, onde eu trabalhava, criou um processo de demissão voluntária. Após conversar com meus Gerentes decidi que esse seria o melhor caminho pois me parecia que não ia me adaptar ao novo sistema administrativo.

Enquanto o processo rolava, eu entrei em contato com um conhecido, Luiz, que juntamente com um ex-superintendente da Vale haviam formado uma empresa de consultoria.

Após minha saída, comecei a trabalhar nesse processo de apresentação dos produtos da consultoria para empresas do grupo Vale e a primeira visita para apresentar o processo de reestruturação de quadro de pessoal e de O&M(Organização e métodos) foi um sucesso.

A Florestas Rio Doce, de Belo Horizonte assinou um contrato para reestruturação concretizando nossa associação e, eu iniciei uma nova experiência.

Sob a supervisão do Luiz, fiquei como consultor e, aplicando suas técnicas, para a criação de uma nova estrutura de pessoal.

Eu morava num hotel mais barato e perto do escritório da Floresta, no centro de Belo Horizonte, o que me permitia pagar por uma suíte.

Florestas Rio Doce - Explicando os processos

Florestas Rio Doce – Explicando os processos.

 

Ficamos , praticamente, o final de 1991 e a maior parte de 1992 fazendo esse trabalho que foi entregue e aprovado, tanto pela Florestas Rio Doce quando pela Vale.

Logo em seguida a Florestas Rio Doce assinou um contrato de elaboração do Manual de Procedimentos (O&M) e eu fui ficando em Belo Horizonte, só vindo em casa nos fins de semana.

Em 1993 a Florestas Rio Doce comemorou 25 anos e como “gran finale” uma recepção com direito a música, petiscos, jantar e bebida.

Quando eu falo em bebida você deve estar pensando em uma cerveja, um vinho ou um wisky e naquelas filas nas saídas da cozinha para atacar as bandejas.

Se enganou, meu bem, a festa era “pode vir quente que eu estou fervendo”. Ao sair do elevador na entrada do salão você encontrava uma mesa repleta de diversos coquetéis, mas muitos e variados coquetéis, além de escutar o conjunto tocando músicas apropriadas para dançar.

Aliás, como dizia Chico Anysio: “naquela época você dançava um COM o outro, diferente de hoje que se dança um CONTRA o outro!”

O certo é que passei direto pela mesa na ingênua impressão de que só ia beber refrigerante durante a festa.

Tem três vinhos que não recuso: o branco, o espumante e o Do Porto, e ao entrar no salão, antes mesmo de começar a cumprimentar os amigos e principalmente o Presidente da Empresa, o anfitrião, um garçom já me serviu uma taça de vinho branco que tomado um gole desceu suavemente.

Não havia nada errado naquela festa. O conjunto era ótimo, as pessoas maravilhosas, e a bebida de excelente qualidade. Havia, algum refrigerante, esse vinho branco maravilhoso e whisky todos de primeiríssima qualidade, além de salgadinhos, que sinceramente, não lembro de tê-los comido.

O serviço do buffet não deixava, quando eu ia me virar para pegar um salgadinho, o garçom já tirava minha taça, pela metade e colocava outra cheia.

E assim foi a noite toda, taça meio vazia, por taça cheia e ou eu prestava a atenção na troca da bebida ou nos salgadinhos.

Mais para o final da noite serviram o jantar, que a essa altura, não sei do que se tratava, após o jantar um bolo(eu acho) e a festa foi se encerrando.

O Luiz, provavelmente vendo o meu estado e a dificuldade de encontrar um táxi me deu carona até o hotel. Tentei não andar de quatro, mais o navio jogava muito. Graças a Deus não vomitei no carro dele.

Ao chegar no meu apartamento do hotel, me deu um vazio, provavelmente do estômago reclamando da falta de comida, que eu considerei um vazio espiritual, que merecia uma outra garrafa de vinho.

A última coisa que me lembro foi de abraçar o garçom do hotel, por ele ter levado o vinho num balde de gelo.

Dia seguinte.

Acordei , ou fui acordado mais ou menos umas 10:00 da manhã, por uma dor de cabeça enorme e, antes mesmo de tomar um remédio, corri para o vaso para colocar tudo que eu não tinha, dentro, para fora. Tomei o primeiro comprimido mas meu estômago revoltado por ter passado fome devolveu quase que imediatamente.

Após tomar o segundo e esperar deitado que aquelas luzes, como vagalumes, parassem de rodar na minha frente me dei conta que tinha marcado o voo de volta para casa para as duas da tarde.

Assim num esforço hercúleo, me levantei e deixei cair a água gelada do chuveiro por talvez uma meia hora. Junto com a chuveîrada meu estômago ainda insistiu em devolver ou tentar devolver algo que ele não possuía desde a noite passada : comida.

Saí do banheiro e enquanto me enxugava fui dar uma olhada pela sala do apartamento e foi quando me deparei com o balde e a garrafa vazia. Olhei o balde não havia nem água e a garrafa estava sem rótulo. Olhei no banheiro da sala e não havia indício de pedaços de rótulos de vinho na pia. No vaso certamente não jogaria por hábito de depositar o papel usado em cesta a parte.

Minha única conclusão possível e que me acompanha até hoje é que, além do vinho, bebi a água do balde com rótulo e tudo.

Tomei outro comprimido para dor de cabeça e saí do hotel em direção ao aeroporto. Fiz o check-in e enquanto aguardava para embarcar o meu revoltado estômago me obrigou a ir para o banheiro. Molhei o rosto e, de onde  não sei, vomitei enchendo a pia. Lavei a boca e vendo o zelador do banheiro tirei uma nota de uns R$20,00, pedi desculpas e que arrumasse a pia que eu havia entupido.

O voo de volta jogou muito, ou era minha cabeça que rodava. Recusei o lanche oferecido. Chegamos desembarquei e vim direto para casa onde os cuidados de minha querida esposa, com uma sopa quentinha e um quarto escuro, começaram a abrandar a ressaca.

Notícia publicada em Belo Horizonte sobre a festa da 25 anos da Florestas Rio Doce

Notícia publicada em Belo Horizonte sobre a festa da 25 anos da Florestas Rio Doce – eu na foto de baixo, à esquerda

Segunda feira bem cedo já estava voando para Belo Horizonte, meio receoso de comentários,  que não aconteceram.